domingo, 5 de fevereiro de 2012

Pensar e Falar (OU SOBRE O HUMOR), por Claudio Domingos Fernandes

Sabe aquela do português? Melhor não contar. A comunidade lusitana pode não gostar. E o alemão? Porque ele ri dois dias depois de uma piada contada? Não ouso responder! Vai soar xenofobia! E da loira, você sabe? Não, é machismo! E a do padre, do pastor e do rabino? Preconceito religioso... 

Na verdade, o mundo está ficando sem graça. Quando criança, eu não era importunado por causa de minha cor, mas porque trocava o r pelo l, ou vice-versa, nunca sei ao certo. 

Na adolescência, sim, quando fui estudar em São Paulo. Certa vez caminhava pela rua dos Trilhos, na Mooca, acompanhado de outros dois amigos. Dois polícias tiveram a pachorra de parar e revistar só a mim. Meus amigos ficaram ao largo observando. 

Há alguns anos, acompanhava um amigo vindo da Itália a uma visita ao Ibirapuera. Fui parado e revistado e me fizeram perguntar a meu amigo se eu o estava importunando. Até hoje, acho que meu amigo não entendeu nada! Eu ouvi muitas vezes que “branco correndo é atleta, preto correndo é bandido”. E constatei isto na pele. 

Em 89 treinava numa equipe para a São Silvestre. Pois bem, fui parado, e só não fui preso porque minutos depois, o treinador percebendo que eu não acompanhava o grupo, resolveu vir atrás de mim. 

Ouvi muitas vezes também que “branco de branco é médico. Preto de branco é macumbeiro”. Aqui se acerta dois coelhos com uma só cajadada! “Um branco parado está esperando o ônibus. Um preto parado esta espreitando a vitima”. 

Embora provoquem um certo padrão de comportamento social, estas frases são para se rir de quem as pronuncia, porque espelham o quanto o sujeito é estúpido. Minha avó, que tinha pouco estudo, costumava dizer que “para falar uma besteira basta pensar, mas falar algo que realmente valha a pena requer repensar”. Por isso, eu não me apoquento com pessoas que despejam bobagem sobre bobagem, para fazer valer seu direito de expressão, que continuem. 

Confesso, tenho pena, porque continuando com a sabedoria de minha avó: “dizer o que pensa é fácil. Qualquer idiota pensa e fala. Difícil é pensar sobre o que se diz.” Para reforçar este ensinamento, um amigo meu me confessou que “99% das pessoas que dizem falar aquilo que pensam, não pensam pra falar. Porque se pensassem guardariam silêncio”. Acho 99% um exagero. Talvez meu amigo deva pensar melhor sobre esses números. Mas uma coisa é certa: há um abismo enorme entre falar o que pensa e pensar pra falar. 

Voltando à piada do português, sem a preocupação do politicamente correto, que é um policiamento cego, confesso que o mundo está chato, porque o humor hodierno está mais para idiotices gratuitas que para o riso. Em busca da popularidade pela popularidade, alguns ditos humoristas se abundam em apelações sarcásticas e carecem de sutileza.

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