sábado, 10 de março de 2012

Sobre o Papel da Escola, por Claudio Domingos Fernandes
























“A finalidade de nossa escola é ensinar a repensar o pensamento, a des-saber o sabido e duvidar de sua própria dúvida; esta é a única maneira de começar a acreditar em alguma coisa” (Juan de Mairena, in Morin, Edgar).

A relação Escola – Professor - Aluno se dá em nome do conhecimento. Pois, o conhecimento é uma necessidade que permeia todo o existir humano. O homem busca e necessita saber, faz parte de si, pois, “é próprio do homem buscar ser sempre algo mais do que é, e isto se dá mediante o conhecimento” (Rodner Lúcio). Sem nada conhecer o homem se anula, torna-se um nada; coisa nenhuma. Para isto é a escola, para tirá-lo de sua nulidade, de sua ignorância, de seu não saber; para dar-lhe instrumentos que o possibilite, potencialize-o, no processo de se fazer e Ser. “A escola é um lugar de produção de saber por excelência, é um lugar de transmissão de conhecimento” (Marisa Faermam Eizirik). No entanto, a escola é meio, é passagem, é caminho. Não é fim. Existem outros caminhos, outros meios, que não a escola. Caminhos, por vezes, mais eficientes. Mas caminhos, passagens. O fim é sempre o conhecimento. Mas mesmo o conhecimento é, ainda, meio. Pois o homem, diante de si e do mundo, está sempre por se definir, é em permanente estado de vir-a-ser. O ambiente, as múltiplas relações sociais, o mundo de informações que o toma, a cultura, também lhe plasmam. Mas a ele compete assumir-se, responder por seu destino, pois Sujeito de si mesmo: seu destino é ele quem o forja, seus caminhos é ele quem os escolhe. 

Disto concorre que “conhecer é estar constantemente avaliando a existência humana” que segundo Adriano, personagem de Marguerite Yourcenar, acontece mediante três meios: “o estudo de si mesmo, o mais difícil e o mais perigoso, mas também o mais fecundo dos métodos; a observação dos homens, que se arranjam freqüentemente para ocultar-nos seus segredos ou por nos fazer crer que os têm; os livros, com os erros peculiares de perspectiva que surgem entre suas linhas”. Utilizando-se destes meios, a escola propicia um quarto, que prima por sua excelência, o encontro, a relação. Onde, de fato, os homens se encontram se dá o conhecimento. 

A escola é, pois, o lugar onde encontro e conhecimento se casam naturalmente. O que amalgama este dois elementos é a linguagem: “Aprender o mundo humano é aprender uma linguagem” (Rubem Alves). É mediante a linguagem que se dá o encontro entre os homens, e, é confabulando que o homem corrige ou afirma, apura, amplia e enriquece seus saberes e a si mesmo.

Por se dar de encontro entre sujeitos, mediado pela linguagem, conhecimento não se dá recitativamente ou por imposição. A linguagem nos envolve num mundo de existências humanas, em tramas constituídas por sonhos, fantasias, desejos, projetos e anseios individuais. Num encontro onde se estabelece o discurso unidirecionado, há o acumulo de informação e o embotamento de mentes. A linguagem educativa é dialética e, por conseguinte, dialogal. Um diálogo embatido, mas, ao mesmo tempo respeitoso, porque considera a diversidade, porque valoriza a autonomia do pensar e a reflexão crítica, porque respeita os tempos de cada sujeito e porque busca o esclarecimento, a Verdade. “O verdadeiro diálogo não pode existir se os que dialogam não se comprometem com o pensamento critico; pensamento que, não aceitando a dicotomia mundo-homem, reconhece entre eles uma inquebrantável solidariedade; pensamento que percebe a realidade como processo de evolução, de transformação, e não como uma entidade estática; pensamento que não se separa da ação, mas que se submerge, sem cessar, na temporalidade, sem medo, sem riscos” (Paulo Freire).

Nesta dinâmica, professores e alunos assumem papel fundamental enquanto agentes do conhecimento, mediados pela linguagem. Ao professor cabe oferecer ao aluno sua capacidade de mapeamento da realidade (Morin), seu poder de reflexão, seus conhecimentos científicos, literários e humanos, ampliando-os constantemente. Ao aluno compete a disponibilidade de se deixar conduzir, a principio, pelos meandros do pensamento critico, até assumir, por si, autonomia de pensar o próprio pensar e questionar-se sobre o mesmo, seus fundamentos e suas implicações político-éticas, avaliando constantemente a existência humana pelo estudo de si mesmo, a observação dos homens ao seu redor e a freqüente visita aos livros e periódicos jornalísticos, especializados, etc.

É neste sentido que a escola torna-se fundamental no processo por meio do qual o homem se humaniza. Mas é preciso sempre lembrar que ela está a serviço do sujeito, o sujeito não está, de modo algum, restrito a ela. 

Claudio Domingos Fernandes
Formado em Filosofia (Licenciatura), casado, dois filhos, trabalha na Secretaria de Educação de São Paulo, leciona Filosofia no Ensino Médio. Coordena Oficinas Culturais na Associação Cultural Opereta, onde ensina Italiano. É membro do conselho do Instituto de Formação Augusto Boal. É membro fundador da Associação Cultural Rastilho (A.CURA). Lançou VACUOS MUNDI. E-mail:cdomimgosfernandes@uol.com.br

Nenhum comentário:

Postar um comentário