sábado, 18 de fevereiro de 2012

Carta ao Pedro Gandolla, por Claudio Domingos Fernandes





















Caro Pedro,


Eu sou professor, e eu estou, por questões pessoais, concientes e decididas, pouco me lixando com aquilo que 90% das pessoas pensa ser Educação. Existe sim um modelo educacional neste pais. Modelo este que favorece apenas 1/3 destes 25% de alfabetizados plenos que você acredita existir. Eu penso ser menos. Eu não me penso “cidadão do mundo”, eu não pretendo ser cidadão em meu bairro, não me vejo neoliberal, também não me atiro de corpo e alma ao radicalismo de esquerda. 



O Governo não está mal assessorado não, pelo contrário, ele e aqueles a quem serve sabem bem o que faz. Acreditar que o fracasso da escola pública é devido ao não interesse de pais alunos e professores, sem considerar que isto é estratégico, isto sim é um discurso rasteiro. É verdade, o sistema está falido, mas não está morto, e continua usando de seu maior trunfo: a dissimulação. 



Eu não sou só professor e não-cidadão (eu não quero ser cidadão deste sistema. É isto – este desejo ilusório – que me torna vitima dele, refém de suas manobras). É a isto que a escola serve, e não será na escola, um mecanismo da burguesia industrial (já superamos a industrialização?), que iremos educar para qualquer coisa que não seja o “exercicio da plena cidadania, ou do espirito bovino” . Eu sou escritor (poeta) e articulador cultural (logo faço pouca diferença). Participo da Associação Cultural Opereta, da nascente Associação Cultural Rastilho, do Instituto de Formação Augusto Boal (Joguetes Ilusórios). 



Eu não sei o que de fato seja Educação e não me preocupo com isto (saber isto me levaria à morte: não tenho vocação para messias). E mesmo me lixando para o que penso ser escolarização, me preocupo com meus alunos-vítimas das estratégias políticas e econômicas que mantém a eles e os 75% de semi alfabetizados “cidadisticamente” acreditando que podem fazer a diferença (eu não deveria me preocupar com eles, antes deles mesmos. Isto me mata). E seja neoliberais, seja radicais de esquerda, seja os de centro, todos esperam que nos tornemos cidadãos: bois em seus pastos. Eu quero não ser. Falta-me senso de realidade. Tenho, porém, muito pouca motivação para vislumbrar qualquer coisa que se pretenda real. Tudo é ilusão!!! O meu discurso, o teu, o do Dalai Lama.



Claudio Domingos

Um comentário:

  1. E? A negação é um passo do processo de transformação. E sua resposta individual tomando para si a responsabilidade de fazer o que for possível, individualmente, muito digna...
    Mas eu, como você (e o Dalai Lama) não somos mero discurso.
    Se formos mero discurso publicar o que pensamos é mero narcisismo.
    Fato é que é preciso agir e sempre acreditei que os poucos que realmente se importam como eu e você poderiam se juntar e reagir. Ganhar forças, compartilhar, ousar!
    Talvez seja isto também uma ilusão... Mas mesmo assim, imagino que como você, não sinto a menor inclinação a parar na frustração ou negação de todos os caminhos.
    Negar não é agir. E, do mesmo modo que mergulhar nas ilusões é uma fuga, negar simplesmente não basta! Façamos o que tem que ser feito! Estou disposto a colaborar!
    Grande abraço!!

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