sexta-feira, 24 de junho de 2011

ORIGAMI, por Cláudio Domingos Fernandes

Há muito não fazia um barco de papel. Creio que desde a morte de meu avô. Mas o menino chorava e ela já impaciente não sabia mais o que fazer. Peguei, então, o flayer que alguém me dera anunciando não sei bem o que e confeccionei o barco. Por alguns minutos o menino se entreteve, fantasiando um rio. Ela me agradeceu: “às vezes ele é impossível!”. Ao longo da viagem fiquei sabendo que ela era do interior e estava por estas bandas de férias na casa de uma irmã, mãe do menino. Passado, porém, o encanto e a pouca fantasia, o menino tornava a chorar. Peguei de sua mão o barco e o transformei em um cavalo. Quem se encantou foi ela. Retirei da bolsa um outro papel e fiz-lhe uma borboleta. Ela ficou admirada e quis saber o que mais eu sabia fazer. Ao fim da viagem, ela tinha um zoológico. Eu o seu nome e a expectativa de tornar a vê-la daqui alguns minutos. Pena que meu avô não me ensinou a fazer o tempo correr nem a controlar a ansiedade que já me faz tremer e suar frio. Talvez ela não goste das flores que lhe fiz. Quem sabe ela já não se desfez de meu zoológico e nem apareça. Talvez seja melhor eu ir embora. As mãos transpiram. Não consigo sequer fazer um barco de papel: o tempo não passa.

Nenhum comentário:

Postar um comentário