quinta-feira, 3 de março de 2011

Texto: MARCINHA - Por Cláudio Domingos Fernandes





No verão, costumávamos cabular aula, principalmente as de dona Jhoana e suas intermináveis lições de divisão com três números na chave. Geralmente ficávamos ao redor da escola. Na verdade ficávamos no campo de educação física sacando as meninas jogando vôlei. Às vezes a professora implicava com nossa presença, mas dizíamos que éramos do período da tarde. Os dias de treino das meninas da oitava série eram os preferidos. Uma vez ou outra íamos à lagoa... Naquele dia, Thiaguinho disse que tinha uma surpresa e sacou da mochila o radinho de pilha que ganhara do avô. “E tem mais”, disse ele, “mas só mostro na lagoa..., se a professora pega..., meu pai me arranca o couro”. Marcinha quando viu o radinho se interessou e logo informou: “Eu e Mariane também vamos”. “Não vão não!” Respondeu seco Thiaghuinho. Mas Marcinha insistiu: “se não formos também, entrego todo mundo!”. Thiaguinho emburrou e acabamos entrando pra escola. A verdade é que ficamos sem entender a reação de Thiaguinho, não seria a primeira vez que Marcinha e Mariane cabulariam aula junto com a gente. Chateados eu e o Alberto combinamos aprontar uma para a Marcinha. Ao fim da segunda aula, no entanto, a idéia de aprontar pra Marcinha já não me agradava tanto. Ela era muito divertida e sempre disposta a participar de nossas armações. Mas, sobretudo, ela era linda. Num corpo que começava a despontar sensualidade, o misto de índia e holandesa dava-lhe especial beleza. Bastava-me seu sorriso e o mundo acabava. Quando então ela pediu-me o apontador, sentir o toque de seus dedos..., a idéia de pregar-lhe uma peça demoveu-se completamente. No intervalo, já estávamos todos juntos e Thiaguinho cedeu e ligou o radio. A música logo criou ao nosso redor uma roda de olhos e ouvidos curiosos. Marcinha gingava o corpo se descrisalando e seguíamos animados seus movimentos ao som de Placa Luminosa. Mas para cortar o barato, dona Marta, com seu característico mau humor, veio, sem mais nem menos, confiscar o aparelho. No dia seguinte nossas mães deveriam comparecer à escola... As aulas seguintes tornaram-se intermináveis. Primeiro, dona Jhoana, depois, dona Quitéria, de OSPB, que aproveitou o “incidente” do intervalo, para nos ensinar o respeito à “ordem estabelecida, como valor civil”. No caminho de volta para casa, Thiaguinho esperou Marcinha se afastar um pouco: “Eu ainda quero mostrar outra coisa para vocês”, sacando uma revista Playboy da mochila: “tirei de um baú de meu pai, que encontrei aberto ontem à noite...” Era uma Playboy de janeiro de 1982, que Marcinha arrancou-nos das mãos, antes que a pudéssemos folhear...



Claudio Domingos Fernandes

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